Agora vamos mudar para o nível global vamos considerar o mundo como resultado desta manipulação essa cada vez mais forte manipulação política das identidades. Qual é o impacto dessa manipulação de identidades na ordem global? Como podemos considerar o mundo agora nessa atmosfera de emergência e desenvolvimento do fator identidade? O fator identidade como estruturante da nova ordem global. O problema é que concedendo um papel importante, um importante papel políitico, à identidade é provavelmente uma fonte de uma nova ordem instável. Eu vou tentar apontar cinco figuras dessa nova ordem, quando é fortemente afetadada e estruturada por essas estratégias de identidade. Primeiro nós podemos considerar essa estratégia de identidade como um instrumento de uma estratégia política. E então temos que considerar três tipos de figuras. A primeira vai estar usando identidade para governar, isto quer dizer, para fortalecer uma ordem do governo que parece ser fraca ou incapaz de atingir seus objetivos. Por exemplo, quando o presidente ruandês Habyarimana tentou mobilizar os Hutus contra os Tutsis. A ideia era usar os Tutsis como bode expiatório capaz de mobilizar os Hutus ao seu redor e fortalecer um poder fragilizado. Isso foi como vocês sabem o ponto inicial de um terrível genocídio que ocorreu em 1994 em Ruanda, esse genocídio que provavelmente produziu algo em torno de 800 000 ou até mesmo um milhão de pessoas mortas, foi causado por uma manipulação de identidades a fim de fortalecer uma ordem política que estava fragilizada por uma falta de legitimidade do presidente Habyarimana. É exatamente o mesmo agora na Síria aonde o atual presidente Bachar al-Assad tenta mobilizar as minorias, a minoria Alawi mas também a minoria cristã para tentar resolver um apoio na atual guerra civil síria. É por isso isto é uma estratégia muito comum mas também muito perigosa e frequentemente uma estratégia muito sangrenta para reforçar uma ordem política que não é capaz de funcionar e funcionar corretamente. O segundo uso particular das identidades é encontrado no protesto, organização de protestos dentro de sistemas autoritários. Dentro de sistemas autoritários, as identidades, e especialmente as identidades religiosas, são a melhor forma para expressar uma visão desviante, uma voz desviante contra o poder que é estabelecido e que é contestado A Revolução Iraniana mobilizou religião e identidade religiosa para lutar contra o regime do Xá o qual não tolerava nenhum tipo de oposição política. Identidade deve ser usada e manipulada como um substituto da falta de oposição política. O terceiro será também para usar a identidade para lutar contra um ordem política deficiente, uma ordem institucional, na qual identidade é concebida como um possível substituto ao contrato social que poderia ser contestado dentro de uma sociedade. Essa é uma manifestação muito comum, uma construção muito comum da identidade na ordem mundial atual. O segundo será tentar territorializar a identidade. Territorializar a identidade é uma das principais estratégias que são usadas para questionar a geografia política e a organização política na arena internacional. Mas esta territorialização deveria ser, para ser bem sucedida, um territorialização forçada isto é, que implica limpeza étnica e cada vez mais genocídio como foi o caso por exemplo durante a guerra iugoslava. Mas como é também o caso em muitas outras partes do mundo em que indivíduos agrupados se identificam com o mesmo grupo implicaria em rejeitar todos os outros que estão coexistindo com eles. E este é o problema da Caucásia este é também o problema do Curdistão. Se o povo curdo precisa construir um Estado curdo tem que limpar o território e rejeitar a população que não é curda dentro do território supostamente curdo. A terceira expressão desta manipulação de identidade será encontrada em algo que é um grave perigo, que compromete a nossa ordem internacional, isso significa dizer a construção de guetos, é o contrário de territorialização. A “guetoização” significa confinar um grupo um grupo de identidade que é rejeitada, em um território no qual é silenciado. Esse foi o caso da maioria negra na África do Sul durante o período de Apartheid, mas é também o caso do povo palestino agora que é forçado a viver em tipos de guetos dentro da Cisjordânia ou em Gaza, isto é, sem chance nenhuma de contato com países estrangeiros e com outro povo. A guetoização é também uma das características do acordo de Dayton em 1995, quando o acordo de Dayton tentou remodelar a Bósnia em conformidade com a similaridades de identidade, e isso estava resultando em uma mapa muito complexo e sofisticado no qual a chance de comunicação e de coexistência era muito pequena. Temos que cuidar dessa tendência que põe em perigo o espírito da ordem mundial, isso significa dizer que se toda identidade for silenciada num gueto o que a coexistência internacional e a ordem internacional significaria? E podemos facilmente imaginar como estes guetos estão produzindo violência, sentimento de revanche, e muitos tipos de reações fortes e negativas vêm das frustações das pessoas envolvidas. A quarta figura desta etnicização do mundo poderia ser a crescente influência de novas ideologias, ideologias que não são mais baseadas em uma visão política, em um projeto político de construção de uma nova cidade, mas ideologias que derivam que são provenientes da apologia de uma identidade e a disposição de construir essa identidade como uma finalidade da ação política. Isto é verdade por exemplo desse novo radicalismo isso podemos encontrar no judaísmo mas também no islamismo, mas também no cristianismo, que tipo de área a apologia destas identidades sem levar em conta a ordem global do mundo e o projeto de criação de novas políticas. Mas há também uma outra derivação que agora concerne o populismo. O populismo é esse tipo de ideologia que é amplamente proveniente de identidade e manipulação da identidade sem se preocupar com as principais tendências das novas questões políticas e dos novos objetivos políticos. Nós podemos geralmente encontrar este tipo de populismo em muitos países que são realmente impactados pelas questões de identidade, mencionei, por exemplo, muitos países na Europa Central e especialmente, por exemplo, a evolução da Hungria no presente contexto. E, finalmente, a quinta figura desta etnicização do mundo é a geração de conflitos de identidades. É algo como um choque da volta da tese de Samuel Huntington. Quando Samuel Huntington considera que havia uma essência de antagonismo em cada civilização, é exatamente o contrário do que podemos observar. Isso quer dizer que quanto mais usamos a identidade como um instrumento político, mais as identidades evoluem para um projeto conflitivo e para uma competição muito arriscada e perigosa. E agora cada vez mais o mundo presente é feito desta competição de identidades e isso é conflitualizar a rivalidade de identidade e a competição identidade. Portanto essas são as cinco principais características desta etnicização do mundo. Vocês podem observar que esta etnicização do mundo em cada nível está realmente prejudicando a ordem internacional, Isto é, ameaçando a paz Ameaçando o respeito, a tolerância, a coexistência. E é por isso o principal desafio da atual ordem mundial é conter a instrumentalização política da identidade a fim de conter o risco de torná-la tão perigosa.