Vamos mudar agora para identidades em um mundo global. A questão é provavelmente uma das mais complexas na pesquisa sobre a nova ordem internacional. A identidade é um conceito muito difícil, é muito difícil defini-la, e entretanto é um conceito comumente usado mais particularmente na retórica política. Portanto, temos que tomar cuidado com a forma pela qual nós vamos tentar defini-la, para concebê-la, construí-la como um conceito. Mas o problema, a questão da identidade é provavelmente uma das questões transversais do presente debate na política mundial e também nas relações internacionais. Primeiramente, nós podemos, através do conceito de identidade, redescobrir e reconstruir o conceito de ator internacional. O que é um ator internacional? é o ator internacional livre de todo tipo de constrangimento? Ou ele é determinado, definido por sua própra cultura? O que é a parte da libertação, da liberdade do ator? E qual é a parte do determinante cultural de sua própria ação? Nós podemos considerar um indivíduo no Iraque por exemplo de agir como um cidadão iraquiano ou como um cidadão xiita, ou cidadão sunita, ou cidadão curdo? Ou deveríamos considerá-lo como um muçulmano individual? Como o indivíduo é construído por ele mesmo trata-se provalvemente de uma das partes mais difíceis da análise. O segundo ponto é a natureza do sistema político. Podemos conceber um sistema político muçulmano, ou um sistema político cristão, ou um sistema político ocidental? Quero dizer, qual é a parte do substrato cultural de um sistema político? É possível cunhar o conceito de sistema político muçulmano ou sistema político no Islã como é geralmente dito? Está claro, por exemplo, que há diferentes tipos de Islã, diferentes tipos de culturas muçulmanas. Então, como concetar o conceito de cultura ao conceito global de um sistema político? Essa é uma forma de investigar isso ou é um tipo de impasse? E a terceira questão poderia ser: E sobre as relações internacionais? São as relações internacionais feitas de um choque de civilizações como é apontado por Samuel Huntington? Nós podemos considerar que a cultura está moldando, estruturando as relações internaiconais no mundo presente? Ou é a clivagem cultural uma das possíveis clivagens entre outras? Ou se trata de uma construção, que é uma ilusão mais do que um fator real das dinâmicas internacionais? Existe também uma quarta questão sobre o contexto das relações internacionais. Como podemos levar em consideração uma situação internacional? A situação é feita pela cultura e pelas clivagens culturais? Ou é feita do conflito, o qual é reinterpretado pela cultura? Essa reinterpretação é feita pelo ator ou ela é feita pelo observador? Portanto, o estado do fator cultural e do fator identidade não está realmente claro, e isso é porque é importante para nós tentar fazer a síntese e discutir essa questão muito importante. Vamos começar por uma definição. Nós estamos provavelmente confusos por todas essas definições substantivas e essenciais de identidade, como se identidade fosse natural mas em um ponto de vista sociológico: não existe identidade natural. Não existe identidade, que poderia ser considerada a priori como moldando o comportamento social. A identidade é uma construção social. A identidade diz respeito à questão muito sensível e muito importante sobre como os outros se definem, como eu me defino em relação aos outros. Como eu posso imaginar, como eu posso desenhar a linha separando os outros de mim mesmo? Qual é o meu grupo? Qual é o grupo com o qual eu me identifico? Isto significa dizer que a identidade é, antes de tudo, uma decisão uma decisão que é tomada por todo indivíduo quando ele está encarando uma situação. Por isso, eu considero a identidade como uma estratégia, é uma estratégia de auto-definição, e de definição dos outros, isto significa dizer da exclusão aqueles que não são membros do meu grupo, do grupo com o qual eu me identifico. Se nós considerarmos a identidade como uma estratégia, nós temos antes de tudo que considerá-la como instável. Quando eu defino minha identidade, não é para um comportamento permanente mas para estruturar meu comportamento em um momento do tempo, em um contexto especial, por isso ela é instável e a identidade é também volátil. Se eu me defino um dia como um muçulmano, talvez, em outro contexto, eu vou me definir como um cidadão iraquiano ou como um sunita, ou como um curdo, ou como um xiita. Isto significa dizer que essa volatilidade da identidade é provavelmente um dos problemas chave da ordem internacional, da regional, da nacional, e da local. O futuro do Iraque irá depender da estratégia de cada indivíduo no Iraque o qual tem que determinar em um contexto preciso por qual tipo de identificação ele vai optar. Mas, por essa razão, a identidade não é decidida apenas por mim, mas também instrumentalizada, também manipulada por empreendedores políticos. Minha decisão, como um indivíduo, nunca é soberana, eu também sou determinado pela pressão, pela influência, pelas estratégias dos empreendedores. E por isso, eu poderia conceber a identidade como um tipo de transação entre o indivíduo e todos os empreendedores que estão competindo por moldar sua própria identidade. Se os empreendedores, a identidade dos emprendedores e os empreendedores políticos estão aptos a moldar sua própria identidade isso significa que o trabalho do empreendedor vai também depender de suas próprias expectativas. Isto significa dizer que a identidade é moldada pelos empreendedores de acordo com suas expectativas. Se não existem expectativas encontrando a influência de um empreendedor, o empreendedor não tem chance de influenciar, de moldar e estruturar sua própria identidade. Por isso existe uma clara conexão entre a construção da identidade e frustações, desigualdades, estigmatização e assim por diante. E nós não indagamos quando vemos que a mobilização da identidade é especialmente forte quando as frustações e as expectativas sociais são tão importantes. Com tantas extectativas frustradas, a chance de um empreendedor de identidade influenciar sua própria escolha será maior e maior. Agora, se identidade é o resultado desses tipos de transações nós temos que considerar a substância da identidade. Quando eu almejo uma identidade eu me identifico com um grupo, mas também me identificando com uma cultura. Por isso o conceito de cultura é tão importante e é por isso também usar o conceito de cultura é tão difícil e tão arriscado nas ciências sociais. Cultura não significa valores. Em uma sociedade, um conflito de valores, a pluraldiade de valores é possível e entretanto essa sociedade é também definida por uma cultura comum. Você pode também compartilhar uma cultura como outros indivíduos sem compartilhar os memsos valores, em toda nação, nós podemos observar esse conflito de valores. O conflito de valores não está destruindo a cultura, é por isso que cultura está em outro nível nós temos qte levar isso em conta, nós temos que considerar. Existe um livro muito interessante, um livro fascinante escrito por esse grande antropólogo, Clifford Geertz. Clifford Geertz publicou em 1973 um livro muito importante, que é intitulado "A interpretação da cultura" no qual Geertz defende que a cultura não significa caráter nacional - como se diz normalmente - mas é um sistema de significados, isso é dizer os significados que são compartilhados entre a sociedade e pelos quais indivíduos estão aptos a entender uns aos outros. E Geertz está apontando que indivíduos em um grupo estão tecendo esse sistema de significados dos quais eles estão dependendo. Então, esse sistema de significados é provavelmente a melhor forma de entender o que cultura significa, e ele está apontando para o fato que a sociedade é possível com clivagens, com uma pluralidade de valores, mas não é possível sem um código, isto significa dizer um sistema comum de significados. Por que a política não significa, em árabe, por exemplo, o que significa em outros países ocidentais. O resultado de instituições políticas está mudando de acordo com a história, isto significa dizer de acordo com a cultura das sociedades e nações. Mas o problema real é considerar que não existe espaços culturais homogêneos e que em uma sociedade existe uma permanente hibridização entre diferentes tipos de culturas. Por isso a cultura não é fazer um território, e, em um território estão coexistindo diferentes tipos de cultura. O último conceito é a crise de identidade. O que é uma crise de identidade? Algo muito claro, isto significa dizer quando não existe coincidência entre a comunidade imaginada como Benedict Anderson disse, e a comunidade real, quando você está vivendo em um sistema que não coincide com a comunidade imaginada à qual você considera pertencer.