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[MÚSICA]
>> Professor Jorge muito obrigado pela sua
participação no nosso curso.
Professor muito tem se falado da astrobiologia que é uma área do
conhecimento interdisciplinar, tem atraído muita atenção não só do meio
acadêmico mas da mídia também, tanto a mídia especializada quanto a mídia geral,
mas de certa forma a gente não consegue contextualizar muito bem
o que é que é uma visão do que é feito astrobiologia.
Com base que o senhor tem pesquisado e o que tem sido estudado no mundo
lá fora qual que é o estado da arte da astrobiologia?
>> Bom, eu diria que antes de mais nada eu vejo a astrobiologia como ponto de vista,
como uma gestalt como dizem os psicólogos, não é?
Ou seja é a mesma problemática simples da humanidade mas agora de
uma perspectiva unificada, holística até certo ponto, no qual os especialistas
aprendem a conversar entre eles para dar uma perspectiva nova aos
problemas que sempre estiveram, porque evidentemente a questão do que é que é ser
vivo como que começou a vida e tudo mais não são precisamente novas,
mas só que a forma de encarar a pesquisa 'iii'
é o que está se constituindo na disciplina astrobiologia.
Então se você observa pouco os escritos,
as publicações do, podem ser consideradas de astrobiologia,
da primeira metade século XX, digamos até agora,
há contraste bastante evidente,
então antes de 1950 mais ou menos os experimentos de
Urey eu acho que são marco decisivo,
divisório do tipo de pesquisa que é feita hoje e
obviamente também a descoberta do ability de eu achar os moleculares
para a compreensão do fenômeno da replicação e portanto da vida.
Mas então o que estava dizendo é que anteriormente,
na primeira metade do século XX, antes ainda, você tinha uma perspetiva que,
sem ser totalmente filosófica, pairava parte da
conceitualização do que é que é ser vivo, da procura da resposta para
a qual a religião já tinha atacado à muitos séculos atrás.
E isso era trazido na verdade para
marco da ciência para ver quanto disso era viável e até onde íamos.
Eram coisas muito gerais, quase filosóficas com pouca inserção
prática e isso muda muito radicalmente nos tempos modernos.
Então hoje há pessoas que estão muito mais interessadas questões pontuais e têm
meios para atacar tópicos de pesquisa que eram, até à pouco tempo atrás impensáveis.
Então eu diria que há uma mudança muito importante na perspetiva
e na ação dos cientistas na problemática da origem e da evolução da vida.
>> Professor Jorge e relação ao aspeto da vida fora da Terra,
da busca dessa eventual forma de vida ou dessas formas de vida fora da Terra?
O que é que o senhor tem visto no sentido de esforços para que nós consigamos
respostas para essa pergunta também?
>> Enfim, bom, eu também ia falar que é decorrência de desenvolvimento tecnológico
do século XX nós temos hoje a perspetiva real de pesquisar in situ Marte,
não tão somente Marte,
mas também Titã e outros objetos do do sistema solar que são muito mais
interessantes para a astrobiologia do que era pensado anteriormente.
Ou seja você passa de Marte da Guerra dos Mundos para Marte onde
você sabe que havia água correndo na superfície e acha moldas que
são elementos interessantes para desenvolvimento de extremófilos.
Então a perspetiva de que bem aqui na nossa vizinhança nós consigamos
informação real de vida atual ou fóssil é muito real.
Além disso toda essa, existem várias
iniciativas de testar instrumentos e procedimentos
que serão diretamente aplicáveis a ambientes ainda mais exóticos
como é o caso de Titã e de Europa nos oceanos e de como furar as capas do
gelo, como fazer uma miniatura,
uma redução muito grande de instrumentos como o espectrógrafo de massa
e coisas assim que são desenhados para propor, sempre são propostos,
para missões que efetivamente vão voar para esses ambientes.
Então você vê que entre os, sei lá, homens verdes
com antenas e hoje essa perspetiva de você realmente fusar o
seu ambiente local, que é o sistema solar, já 'iii' corretamente.
Além disso o tipo de interesse,
hoje há uma forte concentração de pesquisa na área como as extremófilas,
mesmo terrestre, onde você pode efetivamente fazer sério experimento com
realmente são análogos ou até alguns dizem que são do tipo que
sobreviveriam tranquilamente Marte ou outros ambientes iguais.
E mais ainda, você indo para a questão da origem da vida toda
a pesquisa ligada vai acabar com a sarca dos experimentos de Urey e Miller que é
efetivamente como você conseguiu, se é que conseguiu,
transformar matéria inorgânica num ser vivo.
E isso aí passa pelos caminhos da biologia, ou seja da ideia de que
por exemplo assim que descoberto os mecanismos da herança e da transmissão
de informação e mudar a perspetiva fazer efetivamente experimentos com a ideia
que o RNA pode ter precedido o DNA e outra série
de ideias extrememente interessantes que todo o dia são objeto de pesquisa hoje.
E passo mais temos uma série de outras coisas 'iii' extremófilas,
mas também tem uma coisa que envolve a biologia sintética,
que é coisa impensada antes no século passado digamos.
Então a biologia sintética consiste simulações de alta qualidade que bem pode
corresponder a organismo simples, verme, micróbio,
com centenas de genes onde você vê efetivamente fatos,
você acredita que são fatos real de organismos
naturais no computador, no laboratório.
Então todo esse tipo, e ainda tem uma série de outras coisas que está
sendo feita hoje mesmo que vamos ver florescer daqui a a algumas décadas.
Então eu acho que é tempo excepcionalmente interessante para as pessoas
se interessarem e aí o que você apontou que é o interesse do público,
o interesse de qualquer pessoa intelectualmente curiosa,
que tem sido monte, tem muito a ver justamente com essa perspetiva real,
de estudar com metas in situ, de mandar instrumentos para Marte,
de fazer coisas que eram uma utopia, uma possibilidade à algumas décadas atrás.
>> Professor, o senhor falou de 2 pontos
do sistema solar que são muito atrativos para o estudo da astrobiologia.
Primeiro Europa,
compreensível o estudo de Europa, função de ser basicamente formado por água não é?
>> Sim.
>> Oceano teoricamente quente,
bate na capa de gelo que tese poderia prover condições para a vida.
No caso de Titã que a gente poderia imaginar que é basicamente
mundo de hidrocarbonetos não é?
No caso estudar Titã, não sendo ele
grande depósito de água de tal forma como a gente conhece hoje aqui
ou como teria lá Europa, isso presume admitir a possibilidade de que a vida não
necessariamente pode existir da forma como a gente conhece aqui hoje baseada água
com as estruturas de transmissão genética ou tem algum outro objetivo quanto a isso?
>> Não, eu acho que acertou num ponto bem interessante que é: embora ninguém
vai negar que existe experimento que nós conhecemos que produziu vida,
que é a Terra, não é e isto aconteceu certamente ligado a água, não dá para
descartar de maneira nenhuma vida baseada no carbono,
pelo 'iii' de hidrocarbonetos, baseada no carbono que é a hipótese mais simples,
conservativa e que é aquela que é considerada a coisa mais
'iii' ficar nesse patamar mas não necessariamente obtendo a sua
energia de sol por exemplo, que é o caso que tem sido estudado por exemplo tipo
de extremófilo que metabolizam por exemplo, indiretamente radiação.
Então minas subterrâneas cheias de urânio e coisas assim
você encontra bactérias que sobrevivem porque elas aprenderam a metabolizar
a energia que vem da radiação natural.
E por isso é que Nós temos esse exemplo aqui na Terra, evidentemente o
caso de Titan e outras possibilidades não podem ser totalmente descartadas,
embora possam ser, não necessariamente ser alvo prioritário,
eu diria que hoje o alvo prioritário é Marte sem dúvida nenhuma e a Europa com
a presença agora é a aposta óbvia das próximas missões,
mas não é para descartar surpresas grandes.
De fato sempre há pessoas que, grupo de pessoas
significativo com opinião
que toda essa procura, essa discussão a respeito da
solidão da vida no planeta Terra vai ser completamente ridícula daqui a uns tempos.
É bem possível que encontrem que a vida não foi normal no Universo e
não necessariamente pela panspermia e ideias assim, mais tarde,
porque é inevitável do ponto de vista evolutivo.
Então isso não é uma coisa totalmente maluca, muito pelo contrário,
nós vamos pouco a pouco ver se aquilo, além de ser plausível,
também é viável, ou foi viável no nosso Universo.
>> Professor, relação aos extremófilos, eles de certa forma,
eles expandiram muito o nosso horizonte da concepção do que é a vida,
né, e talvez seja uma das áreas assim mais ativas na pesquisa
astrobiologia, até porque permite que a gente compreenda
pouco melhor a vida aqui na Terra com outras perspectivas.
Na opinião do senhor, o que hoje tem sido
feito no sentido de compreender melhor e buscar outros tipos de
extremófilos que nos ajudem a aumentar ainda mais ou compreender
melhor esses limites ou essas restrições que a gente tem hoje do que é a vida?
>> Bom, nós temos aqui no Brasil uma expertise bastante interessante nesse
aspecto, tanto no mundo de astrobiologia, quanto espalhado pelo país todo,
especialmente na região sudeste e etcetera, pessoas que trabalham,
por exemplo, com o programa antártico,
com lugares onde a procura de extremófilos é uma coisa mais
interessante de ser feita do ponto de vista da microbiologia.
E nós não sabemos até onde pode ir, você pode imaginar de teórico,
por exemplo, se a temperatura for muito muito extrema,
você pode pensar associar com rigor que decompõe qualquer organismo.
Mas antes disso você pode ter efetivamente mecanismo de defesa desses microorganismos
reais que adiem a impossibilidade de vida para temperaturas extremas, então,
hoje não temos ideia de qual é o limite, realmente o limite sobre esse tema,
temos número para alguns extremófilos nos "hydrothermal vents"
lá no fundo do oceano, e por aí vai, mais e vulcões e tudo isso.
Mas não é uma certeza o exemplo que eu mencionei de
bactérias que metabolizam radiação, radioatividade,
mostra para você que a vida encontra caminhos que você precisa conferir,
porque são bastante exóticos,
mas certamente a vida se arranjou para tirar
vantagem de ambientes onde você somente
sendo extremamente criativo do ponto de vista evolutivo, conseguiria sobreviver.
Então, temos o caso 'iii' temos o caso do lago subterrâneo a 5 quilômetros baixo do
gelo Antártico, onde os organismos serviam perfeitamente para sobreviver e você diz
assim: " mas como é que ele consegue?" Então ao dizer colega,
colega russo que é realmente experiente nesse quesito,
eu ouvi ele dizendo uma vez, falando dos extremófilos da Sibéria,
que a vida, as condições nunca são extremas para os organismos sobreviverem,
então, que seria possível imaginar que eles estão felizes
de ter ambientes muito frios ou muito quentes ou muito radioativos e por aí vai.
Então, eu diria que para muitos de nós,
e eu sobrescrevo essa opinião, se você tem que procurar vida fora da Terra,
o fato de você denominar organismo que consegue viver como
extremófilo é pouco uma denominação antropocêntrica porque,
claro que nós não conseguíamos viver, mas eles fazem sem dúvida nenhuma.
>> Professor, para a gente concluir, na percepção do senhor,
a astrobiologia, ela é uma ciência que tende a uma área do pensamento
que tende a se consolidar aqui no Brasil e na América Latina, de tal forma como
a gente verifica hoje nos Estados Unidos ou na Europa, ou o senhor acha que esse
processo ainda vai ter alguns percalços e tende a demorar a pouco mais?
>> Eu gostaria de ser mais otimista do que sou, mas evidentemente longo caminho,
porque para você perceber e para todas as pessoas que vão ver essa reportagem,
esse depoimento, não existe nenhuma carreira hoje de astrobiologia si própria.
Existem algumas tentaivas de instalar cursos de graduação fortemente resistidas
pelos organismos tradicionais, seja o departamento de Biologia ou Química.
Então, por outro lado, nenhuma pessoa se denomina astrobiólogo,
porque automaticamente ficaria fora do concurso que forneceria o emprego,
porque é uma espécie de híbrido, ninguém quer.
Então, eu diria que declamar a multidisciplinaridade é muito
mais fácil do que praticá-la.
Então nós vamos demorar décadas até firmar todo esse conhecimento,
mostrar para os colegas outras áreas de conhecimento que não é nada esotérico,
que a astrobiologia responde a uma necessidade fundamental no ser humano e
que hoje está sendo montada assim,
evoluindo mundialmente, para ter uma ideia própria.
Nós não temos que esquecer que até ao século XIX as disciplinas
que hoje conhecemos como tradicionais, como por exemplo,
Química, Biologia ou Física, não existiam como tais.
Por exemplo, o James Clerk Maxwell não era denominado físico,
era filósofo natural assim aquelas, não é?
Então, a identidade do objeto de estudo,
toda a metodologia de pesquisa própria da área,
é processo que se desenvolve e demora algum tempo.
Eu diria que nós, nesse quesito, não estamos fazendo avanços espetaculares.
Estamos pouco a pouco mostrando trabalho, mostrando especialmente o resultado,
seu interesse extremo que tem para uma série de disciplinas que hoje estão
tanto quanto espalhadas assim várias instituições.
Mas evidentemente, eu confio que a identidade de astrobiólogo,
a identidade da disciplina de pesquisa que vai ter uma herança muito importante
de várias outras disciplinas, vai fatalmente acabar acontecendo.
Mas não é uma coisa que se faz de dia para o outro.
>> Está certo, então, professor,
muito obrigado pela sua participação novamente e até lá.
>> Obrigado vocês pela oportunidade de expressar,
compartilhar esses pensamentos com vocês e espero que
seja de proveito das pessoas que se interessam por essa problemática e
queiram se aprofundar no problema da origem e evolução da vida no Universo.
>> Com certeza, muito obrigado.
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